quarta-feira, 4 de abril de 2012

MULHER E SEXO: VOCÊ RESPEITA ESSA RELAÇÃO?




SensuaisEm Sêneca Falls, em 1848, durante uma Convenção dos Direitos da Mulher em que foi redigida uma paráfrase na Declaração de Independência dos Estados Unidos, iniciando-se com a seguinte frase: “todos os homens e mulheres foram criados iguais”. A Constituição Federal Brasileira de 1988 diz em seu Art. 5º, Inciso I que: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações...”. Será mesmo? Será que as mulheres têm a mesma liberdade que os homens? Será que podemos ter quantos parceiros quisermos? Será que podemos usar um shortinho sem ser taxada como puta ou vulgar? Que porra de ideia é essa que nos coloca sempre como objeto de desejo? Que caralho de sociedade é essa que dita o que eu devo ou não vestir para ser valorizada? Será que podemos transar com quem quiser por necessidade própria?  

Anos, após a Convenção nos EUA e a Constituição de 1988, levo um tremendo susto sempre que me proponho a pesquisar sobre mulher e sua relação com o sexo. Isso porque todos os temas, trabalhos acadêmicos e livros ora remetem a algum tipo de violência sexual sofrida pelas mulheres e, pior, ora falam de milhares de dicas de como agradar um homem (a mulher precisa agradar a si mesma, antes de fazê-lo para outros). Infelizmente ainda não encontrei livros, textos, artigos, ensaios ou qualquer outra coisa mais profunda que aborde a relevância do sexo na vida das mulheres, seja ela mãe, mulher, amante, namorada, lésbica, trissexuais, bissexuais, trans e etc. Precisamos de trabalhos que mostrem que as mulheres podem e devem transar não por necessidade biológica, imposição de anos de repressão sexual, obrigações mil, mas por prazer. Sexo faz bem para pele, corpo e auto-estima. Não podemos ser taxadas como putas por transar e fazer uso do sexo como bem entender.

É fato que nós, mulheres, sofremos há anos com falta de igualdade salariais, com a falta de direitos políticos e, ainda há muitas que sofrem com as violências físicas, sexuais e psicológicas. Nossa sociedade, patriarcal e machista, do século XXI ainda limita o papel na mulher ao mesmo tempo em que materializa sua imagem: são muitas as propagandas em que as mulheres são mostradas para os homens como petiscos para uma tarde de cerveja com os amigos. As mulheres não dispõem da mesma liberdade que o homem. Somos estereotipadas de acordo com tabus patriarcais obsoletos e preconceituosos, do tipo: mulher que não quer compromisso sério e escolhe com quem transar e quando transar é puta, mulher que trai o marido é vagabunda (mas se o caso for inverso ele é o gostosão), mulher com shortinho é vadia e quer chamar a atenção, mulher que senta em um barzinho sozinha está a fim de homem, mulher quando casa tem, necessariamente, que ter filhos e etc, etc, etc... O Estado ainda precisa mudar muito até que a tal igualdade, estabelecida na Constituição, seja efetivada. As lutas das nossas feministas conquistaram e ainda tem muito a conquistar, pois, entre outros fatores, os índices de violências e discriminações sofridas ainda são altos. Por anos as mulheres sofreram limites na sua liberdade e aí está incluída também a liberdade sexual. O prazer ficou restringido aos homens com as raparigas de bordeis, as meninas cresciam em escolas de freiras para aprenderem a ser boas mães cristãs e boas esposas, o pai escolhia o marido para as filhas, sexo no casamento era visto como uma necessidade para procriação: quanto mais filhos, mais valor uma mulher poderia ter. Mas está na hora de mudar o discurso. Está na hora de incluir a necessidade que temos de usar o sexo como bem entendermos. Agora é o momento de buscar, e, acima de tudo, de usufruir da mesma liberdade de forma livre e não discriminatória. Não me refiro, contudo, à liberdade a que muitas pessoas tradicionais e arcaicas, relacionam com ‘meninas-crianças’ usando shortinho e “ralando a tcheca no chão” e muito menos transar com 10, 11,12 anos ou ter filhos antes dos 15, mas sim da liberdade de entender o nosso corpo, de si conhecer, de si permitir viver e transar da maneira como bem lhe convir obedecendo aí os limites da idade e do corpo.  Refiro-me à liberdade de transar por prazer e não por obrigação, da liberdade de dizer não quando não estiver a fim de transar e enfatizar quero e como quero (quando assim o desejar). A ideia de que uma mulher tem que está disponível para o sexo, precisa ser desconstruída, a menos é claro que a disponibilidade e vontade sejam recíprocas. Refiro-me à liberdade de usar a roupa que quiser sem que um FDP² estupre uma mulher e afirme que a mesma o provocou por usar um short curto ou blusa decotada... O absurdo da falta de respeito da nossa sociedade chegou a tal ponto que existem pais estuprando filhas e filhos alegando que não resistiu vê-las de calcinha, cobertas por toalhas ou deitadas na cama, isso justifica o estupro? É aceitável que um FDP estupre alguém e afirme que a vítima o instigou ao ato? A sociedade chegou a tal ponto que nem um pai consegue respeitar uma filha.

Nesse contexto recordo-me que muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, desconhecem o movimento que ficou conhecido como Marcha das Vadias¹. Em síntese, a ideia que essas mulheres querem passar diz basicamente o seguinte: não importa se estou vestida ou nua, isso não te dá o direito de abusar ou me estuprar. O corpo me pertence e dele faço o que quiser. Considero esse movimento um dos mais importantes da atualidade, pois a sociedade atual passa por um processo de erotização dos comportamentos femininos, onde o corpo da mulher é visto como terreno livre para o outro. Foram e são mulheres valorosas como as revolucionárias da Marcha das Vadias que mostram que o nosso valor não se restringe ao voto, à proteção contra violências e à igualdade de salários, pois estes devem ser direitos inerentes à pessoa humana, mas estas revolucionárias reafirmam a nossa capacidade de ser mulher, de ser livre exigindo que nos respeitem como tal.

Portanto volto a firmar que: tabus e dogmas só limitam nosso pensamento. A realidade das pessoas não devem se restringir ao passado obscuro. O Iluminismo nos trouxe outra realidade do mundo e outros questionamentos que até hoje estão sendo respondidos. Não permita, seja você homem ou mulher, que uma sociedade com valores patriarcais e obsoletos restrinja sua liberdade de ser e sentir. Respeite o direito que temos de transar, de vestir e amar. Seja mulher autentica e livre tal como nascemos e assim, mais uma vez, mudaremos os rumos da história.

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¹Leia mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_das_Vadias
² Para quem ainda tem dúvidas “FDP” significa Filho da Puta (com  respeito às mães, é claro).

2 comentários:

  1. Adoro seu blog ele é ótimo esclarecedor.
    Parabens!!!!!!!!

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  2. Olá, muito obrigada e não deixe de 'aparecer'(risos). Beijos agridoce's da preta ;)

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Beijos da preta ;)